O Zé David.
Conheci-o há quase 30 anos, éramos jovens internos. A primeira imagem que tenho dele é a de um tipo irrequieto e de gargalhada fácil e sonora, sempre rápido na opinião e no comentário certeiro.
Entre tertúlias e copos, episódios incontáveis em número e conteúdo, lá avançámos na nossa formação pessoal e profissional.
Depois crescemos. O Zé retornou ao Algarve, a sua terra, e numa altura ainda mais difícil que a atual no que à descentralização de serviços de Saúde Mental diz respeito aceitou o desafio de abrir um Serviço de Psiquiatria em Portimão, no hospital do Barlavento Algarvio, ao qual se dedicou a tempo inteiro e em exclusivo.
Era um homem inteligente, com uma sólida e eclética formação psiquiátrica, do psicodrama à gestão.
As Jornadas do Algarve tornaram-se um evento de referência na Psiquiatria nacional. A cada dois anos, nos anos pares, passou a ser obrigatório rumar ao Carvoeiro para um encontro sempre repleto de qualidade – os programas temáticos eram elaborados com um cuidado “picuinhas” e a escolha dos títulos das mesas pareciam nomes de poemas.
O Zé David fica na história da Psiquiatria nacional por mérito próprio, é um ilustre representante da geração a que tenho a honra de pertencer. Morreu cedo, demasiado cedo. Que injusto. Mas deixou um Serviço que, tenho a certeza, honrará o seu trabalho e a sua memória.
Obrigada Zé. Até sempre.
Ana Matos Pires