Guia Essencial para Jornalistas

capa-guiaPorquê a criação de um Guia Essencial para Jornalistas relativo às questões da Saúde e da Perturbação Mental? Não é habitual um guia desta natureza, mas no entender da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) este guia faz todo o sentido. Vejamos porquê… Apesar da perturbação mental se enquadrar no domínio da clínica – a clínica psiquiátrica – e a especialidade que a diagnostica e trata – a Psiquiatria – ser uma especialidade médica, as consequências da perturbação mental fazem-se sentir, sobretudo, no domínio do comportamento. Pode-se por isso dizer que as perturbações mentais são perturbações do comportamento.

Ora, o comportamento é o código que nos permite interagir socialmente, é um dos elementos principais do senso comum. Uma perturbação que atinja o comportamento, atinge necessariamente esse código de interação e, por consequência, esse senso comum. De tal modo que, para um leigo não é fácil distinguir uma alteração desse comportamento, por força da vontade (mesmo que perversa) da alteração do mesmo por força da patologia. E aqui entramos no cerne do estigma: tendemos a estigmatizar todos os comportamentos que não se enquadrem no senso comum.

Como temos tendência a explicar mesmo aquilo que não entendemos, explicamos as alterações de comportamento à luz do nosso senso comum, considerando esses comportamentos como aberrações a serem eliminadas. Dito de outra forma, as perturbações mentais sofreram uma estigmatização ao longo da história em razão da dificuldade da ciência explicar essas alterações comportamentais. Daí que ao longo dos tempos a pessoa com perturbação mental tenha sido vista como “louca”, como alguém que se desviou (porque quis) do senso comum. Estas ideias preconcebidas têm sido tão fortes e persistentes que resistem mesmo agora que a ciência apresenta explicações para esses comportamentos, E a verdade é que o estigma da perturbação mental é de tal grandeza e extensão que anos de luta contra esse estigma pouco conseguiram mudar nas mentalidades.

Sendo assim, uma das principais formas de luta contra o estigma é a informação. A informação generalista, pois é essa que mais profundamente penetra na consciência das populações. E, na era da informação, quem melhor do que os meios de comunicação social para veicular essa informação? Mas para cumprir tal tarefa também eles devem ser esclarecidos sobre o que a arte médica e a ciência hoje dizem sobre a perturbação mental. Daí a pertinência deste guia.

Um primeiro passo para, antes de mais, se informar a população sobre as pessoas com perturbação mental, a sua condição de doentes e as possibilidades de tratamento que existem. Um primeiro passo para se ultrapassar a condição de estigmatizado e conduzir a pessoa com perturbação mental à condição de ser humano atingido por uma doença.

É certo que esta tarefa é obra de uma sociedade e a comunicação social é a voz institucionalizada dessa mesma sociedade.

João Marques Teixeira, presidente da SPPSM

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